Um dos fortes candidatos ao Óscares deste ano (a par de American Hustle e 12 Years a Slave, os 3 principais neste momento) e que tem vindo a me deixar bastante interessado no seu produto final. Confesso que inicialmente tinha as minhas dúvidas (e até ver terei sempre), não propriamente pela qualidade, mas sim pela força do filme na corrida aos Óscares, normalmente quem começa forte acaba perdendo e por isso é difícil prever algo antes de Dezembro (quando as coisas começam realmente a aquecer), mas com tanta critica positiva e com tamanha recepção do público começo a acreditar numa real possibilidade de Gravity lutar de verdade pelo Óscar principal.
Independentemente da corrida aos Óscares fiquei extremamente interessado no filme e se as minhas finanças não estivessem no zero de certeza a curiosidade me faria ir ao cinema já hoje, dia que o filme estreia em Portugal.
No geral esta edição dos óscares foi bem diversificada, sem nenhum grande vencedor, as estatuetas foram tão bem divididas que até mesmo Django, que não estava a ser muito cotado para figurar na gala, acabou se saindo bastante bem, com duas estatuetas, mais uma que por exemplo Silver Linings Playbook, que tinha muito mais hype antes da gala. Mesmo assim dá fazer uma breve lista dos vencedores e dos grandes perdedores.
Zero Dark Thirty saí dos óscares com apenas uma estatueta, sendo mesmo essa repartida com Skyfall, Lincoln ficou com duas e se já era o grande derrotado da noite contando a vitória do Spillberg, sem ter ganho esse prémio fica sem dúvida alguma como a desilusão do ano na gala dos óscares. Depois houve os pequenos perdedores como The Master ou Impossível, que tinham poucas hipóteses. Wreck-it Raplh e Frankenweenie também poderiam ser inseridos entre os derrotados da noite.
Beasts of Southern Wild acaba não ganhando nada, como seria de esperar, mesmo assim só as nomeações já são mais do que suficientes para se ter saído bem nos óscares, o mesmo se pode dizer de Silver Linings Playbook que o seu maior feito foi ter sido nomeado para os 7 principais títulos a que podia concorrer, realizador, filme do ano, argumento e as 4 categorias de interpretação, mesmo assim saiu com um óscar de melhor actriz e se tivesse ganho o de argumento adaptado podia-se mesmo considerar o 3º grande vencedor da noite.
A Academia homenageou os musicais, provavelmente porque na altura que pensaram no que iriam fazer para a gala Les Miserables devia ser o principal candidato, mas de lá para cá perdeu muita força e foi arrasado pela crítica, mesmo com a clara divisão, apesar disso Les Miserables leva 3 estatuetas para casa, o que este ano não se pode dizer que foi um mau resultado. Outro tema que a Academia homenageou foi a saga do 007, e sem dúvida não havia melhor altura para a saga comemorar 50 anos, porque depois de mais do mesmo desde que o Daniel Craig se tornou o James Bond toda a saga se reinventou e este Skyfall mesmo não sendo melhor que Casino Royal, fica lá perto e merece todo o destaque que tem tido, que nos óscares se resumiu a duas estatuetas.
Filmes de época tem espaço guardado para o óscar de melhor guarda-roupa e este ano não foi excepção, com isso Anne Karenina saí da gala com uma estatueta. Amour que vinha de um forte apoio e bem cotado para os óscares de melhor realizador e melhor actriz principal, acaba se contentando com o óscar que já lhe era certo, o de filme estrangeiro, podia ter feito melhor, mas acredito que a culpa foi por a Academia este ano ter querido distribuir os óscares pelo maior nº de filmes. Django e Quentin Tarantino mesmo que novamente afastados das categorias principais acabam se saindo bem nos óscares com 2 estatuetas.
Argo ganhou 3 óscares, dois deles em categorias mais secundárias, mas que compensa com o óscar mais pretendido, o de melhor filme do ano. A sua vitória podia ter sido mais evidenciada caso a Academia não tivesse excluído Ben Aflleck do óscar de melhor realizador, mas ele mesmo assim subiu ao palco. Se tivesse tido esse óscar teria 4 e dessa forma seria claramente o grande vencedor, algo que terá de dividir com Life of Pi.
Life of Pi apesar de ofuscado pela vitória de Argo na categoria principal pode-se dizer que foi o grande vencedor, até porque a vitória do Ang Lee não era esperada e acabou dando um prémio importe para Life of Pi. Vencedor das categorias técnicas, como seria esperado, até pensava que iria ganhar mais alguns, mas foi o que disse acima a Academia quis dividir os prémio e também não faria sentido Life of Pi ter 6 ou 7 óscares e Argo receber o prémio mais esperado da noite. Seja como for sempre a correr pela lateral, acaba fazendo uma excelente figura nos óscares.
Já de modo geral e principalmente comentando sobre as categorias que tinha comentado anteriormente no blog, acertei 5 e falhei 4, um saldo positivo que até considero ainda mais positivo porque à excepção de uma das categorias que falhei gostei mais do resultado do que da minha própria aposta. O que não gostei foi de ver Brave ganhar, é um bom filme, mas para os padrões da Pixar bem abaixo do esperado, mas mesmo assim a Academia deu-lhe o óscar, quando podia homenagear o Tim Burton ou dar um óscar ao melhor filme de animação do ano, Wreck-it Ralph.
Nos argumentos Django acabou ganhando o argumento original, mais uma vez confirmando o Tarantino como o melhor nesse quesito. No adaptado, que tinha comentado sobre ser a categorias mais difícil de prever a Academia atribuiu-o a Argo, o que olhando para a gala em si faz todo o sentido, já que seria estranho ganhar o óscar de melhor filme e sair da gala apenas com 2 óscares. Mesmo assim acredito que o mais certo seria dar a Silver Linings Playbook até para confirmar o filme como um dos grandes vencedores da noite.
Sem surpresas entre os actores secundários, Christoph Waltz e Anne Hathaway também. Ela acabou ganhando o óscar pela boa carreia que tem tido e ele mais uma vez vê o seu enorme talento premiado, 2 óscares em anos muito próximos não é coisa muito normal pela Academia, esperando que no próximo filme do Tarantino ele possa ser indicado como actor principal.
Nas categorias principais de interpretação Daniel Day-Lewis acabou ganhando sem surpresas, a Meryl Streep nem sequer se deu ao trabalho de fazer suspense e já agora nem de propósito sairia melhor, com a melhor actriz a dar o óscar ao melhor actor. Naquele momento em palco estavam os dois maiores nomes do que diz respeito à representação na actualidade, e quem sabe mesmo de sempre. Ela já tem 3 óscares, mas um deles como actriz secundária, já ele ganha o seu 3 na categoria principal, se tornando o primeiro a consegui-lo e não havia melhor actor para bater esse recorde. Já na categoria de actriz principal ocorreu a segunda maior surpresa da noite, Jennifer Lawrence ganhou, e também caiu ao subir as escadas, com apenas 22 anos, quase bateu o recorde da vencedora mais nova, 21 anos, com isto é ainda mais de esperar uma óptima carreira pela frente.
A categoria de melhor realizador foi a grande surpresa da noite, tudo apontava para Spillberg e acabou ganhando Ang Lee, que assim ganha a sua segunda estatueta, acabou sendo uma grata surpresa, já que Life of Pi e o realizador mereciam esse prémio e dessa maneira também deixam, por alguns minutos, uma certa incerteza no ar sobre o vencedor do prémio máximo. Teria sido épico se tivesse acontecido, mas Argo merecia o reconhecimento, e a Academia também não teve a coragem de ir contra tudo e contra todos, dando o óscar de melhor filme a Argo e finalizando a noite com Ben Aflleck no palco, que dessa maneira também se redime do erro de nem sequer o nomear ao óscar de melhor realizador.
No geral uma boa gala, que acabou ganhando alguns pontos por causa dos prémios terem sido distribuídos por vários filmes, sem haver grandes vencedores. Apesar de sempre ter alguma incerteza no ar, tirando a de melhor actriz principal e principalmente de realizador, tudo o resto foi mais ou menos o esperado. Normalmente o grande momento da noite é quando é anunciado o melhor filme, neste apesar de um óptimo momento, o grande momento da noite sem dúvida foi o 3º prémio para Daniel Day-Lewis.
O título é capaz de dar a entender algo totalmente errado, tanto porque pode-se assumir logo que é comédia romântica, quanto pela ironia que é chamar-se Amor e a história em si ser sobre Morte, ou melhor sobre o final da Vida. Ou seja é um filme sobre o final da vida de dois idosos e o amor que sentem um pelo outro. Também já avisando não é um filme de entretenimento e nem mesmo comercial, este sim é um filme para por o espectador a pensar e quem tem algum familiar nessa situação de certeza que se vai identificar com a história, uma obra-prima do melhor que o cinema independente tem para oferecer.
O filme passa-se totalmente na casa dos protagonistas, isto porque tendo em conta a premissa do filme nada além do que se passa naquelas 4 paredes realmente importa, por isso contam-se pelos dedos os restantes personagens que aparecem no filme, e nenhuma delas com grande foco na história, já que as suas aparições servem principalmente para mostrar vários pontos de vista da doença, principalmente por 3 pontos de vista diferentes, a filha, o ex-aluno e a mulher contratada para cuidar da protagonista.
Apesar dessas pequenas participações, o filme se foca totalmente no amor que eles os dois sentem um pelo outro, desde o antes da doença atacar, ao pós doença, e principalmente durante todo esse processo. Lembro-me principalmente de uma cena, onde a doença já está tão avançada que a protagonista mal consegue controlar as suas ações e quando ele lhe tenta dar água ela cospe tudo e ele acaba se irritando e pela primeira vez, se não estou em erro, perdendo a paciência. Essa cena mostra todo o desespero de uma pessoa nessa situação, não é que não ama mais, apenas que afinal não consegue lidar com a doença tão bem como esperaria.
As actuções no filme são extraordinárias, tanto ele como ela mereciam uma nomeação ao óscar, coisa que a actriz ganhou, com um papel nada fácil de desempenhar. Infelizmente ele não acabou ganhando a nomeação ao óscar, mas entende-se, já ela pode ser mesmo que acabe ganhando o óscar tendo em conta que as principais concorrentes sãos duas actrizes novatas, logo com ainda muito tempo pela frente para ganhar o óscar.
Concluindo, Amour é um filme poderoso, não é de entretenimento e nem mesmo comercial, como todos os outros filmes, excepto Beasts of Southern Wild, nomeados aos óscares são, é um filme independente de altíssima qualidade, de uma simplicidade e realismo que até dá medo só de pensar no futuro. E esperando pelo próximo trabalho do realizador, mas enquanto isso indo assistindo quando calhar aos seus outros filmes.
Era dito que o livro de Life of Pi era impossível de ser adaptado ao cinema, Ang Lee pegou e tornou realidade e ainda bem que o fez, porque saiu um dos melhores filmes de 2012, que só peca por não ter acabado na boca tanto do público quanto da crítica, isso também pode ser explicado por alguns defeitos que comentarei abaixo. De qualquer maneira, é uma pena ver que a 1 dia da entrega dos óscares, Life of Pi pouco foi cogitado para a estatueta mais aguardada da noite, apesar de que com a queda de Lincoln, diria que se há alguém capaz de tirar o óscar a Argo só pode ser Life of Pi, além de que o filme deve acabar sendo o vencedor das categorias técnicas.
Life of Pi acima de tudo é a história da relação entre um tigre, Richard Parker e um rapaz, Pi Patel, presos em pleno Oceano Pacifico, esse também é o motivo para que Life of Pi era considerada uma obra inadaptável, afinal uma história que passa a maior parte do seu tempo no mesmo espaço e com os mesmos personagens, sendo que só um fala neste caso já seria complicado o suficiente, agora adicionar um tigre na história, tornava toda a situação, antes do Ang Lee pegar no filme, impossível de adaptar.
Mas Ang Lee pegou no filme e com muita boa vontade e um longo tempo de produção, conseguiu apresentar o que é hoje Life of Pi, um filme perfeito nos aspectos técnicos e com uma magnífica história de background. Desde o mais simples, as paisagens da índia, passando pelo naufrágio e terminando no tigre, Ang Lee fez o que todos achavam impossível.
O problema de muitos filmes é sempre a pouca duração, 2 horas de média, que tem para apresentar toda a história, desde a fase de introdução, ao conteúdo e depois finalização, essas falhas ficam mais que evidentes em filmes como Zero Dark Thirty e Django, Life of Pi conseguiu construir tudo muito melhor, mesmo assim fica a ideia que todo o background do Pi para pouco ou nada serve num filme.
Na fase de introdução, somos apresentados ao repórter, ao seu tio, à origem do seu nome, Piscine Patel e como acabou se tornando Pi Patel, aos seus pais, ao seu irmão, à sua namorada, ao Richard Parker e os restantes animais e também a Deus e as várias crenças de Pi. Olhando para isso cria um óptimo personagem e praticamente conhecesse toda a sua história, o problema é que já no trailer do filme se sabe o filme se centra no Pi e no Richard Parker em alto mar, ou seja todo esse backgrounf bem desenvolvido acaba ficando em segundo plano e pior que isso fica a ideia que tudo isso não importa, já que o grande ponto do filme é a relação entre o Pi e o Richard Parker.
Mas passada essa fase de introdução, chegamos ao fatídico acontecimento, num naufrágio muito bem realizado, mas acima de tudo o significado de tal naufrágio. E com isso segue-se para o tão aguardado momento, a relação entre os dois protagonistas, o que chama mais a atenção nisso é que toda a situação não foi trabalhada de uma forma cliché ou rápida, foi um desenvolvimento lento e até mesmo nas principais aproximações dos dois personagens, o Richard Parker em momento algum deixou de ser um tigre que a qualquer momento podia matar o Pi, enquanto o Pi sempre tenta doma-lo, mas sem nunca ter realmente conseguido.
O filme também trabalha muito em cima de Deus, mas não do Deus da religião católica, mas sim de uma força superior divina, seja ela qual for, e a fase de introdução com ele pertencendo a várias religiões mostra bem isso, no final acaba parecendo que o filme também quer deixar uma lição de moral, ficando a pergunta: “Qual das duas a melhor versão?” A resposta depende de cada um e a interpretação também, ou seja ser lógico ou acreditar em Deus, mas nesse ponto acredito que o filme não tenha agradado muito a quem seja ateu, já que de uma maneira bem simples realmente parece que o filme quer enfiar à força a existência de Deus, qual deles é outra conversa.
Concluindo Life of Pi é uma obra fantástica, com um desenvolvimento fantástico em alto mar, com a relação entre o Pi e o Richard Parker, tudo naquela relação é trabalhada ao pormenor, o filme pode pecar apenas por querer criar crenças em Deus, por causa do excelente background pouco ou nada significar para o principal ponto da história e também há quem possa achar chato boa parte do filme acabar sendo em alto mar entre dois personagens, sendo um deles um tigre, mas aí nada tem a ver com a qualidade do filme. Infelizmente faz pouco tempo que Quem Quer Ser Milionário ganhou o óscar de melhor filme, então ainda seria cedo para outro filme com background indiano arrebatar outro troféu, mas se Quem Quer Ser Milionário não tivesse ganho na altura, de certeza que este ano iria para Life of Pi.
Mais que provável vencedor do óscar de melhor filme, Argo e Ben Affleck ganharam praticamente tudo nas restantes premiações, falta agora só confirmar a superioridade nos óscares. E como a maioria das análises que li, também irei começar por falar de Ben Affleck , que nos últimos anos, e em especial neste, passou, de vez, de actor de comédias românticas fracas para um dos melhores realizadores norte-americanos. Ele antes de Argo já tinha realizado dois filmes, Gone Baby Gone e The Town, o segundo é bom, mas fica apenas por aí, já o primeiro apanhou-me totalmente surpreso, quando pensava que já sabia onde aquilo ia dar, a história muda de rumo.
Argo é o terceiro filme patriota nomeado aos óscares deste ano, mas dos 3 claramente o que menos se apoia nisso para tentar vender o filme como bom, de forma resumida, Argo conta a história do salvamento de uma equipa americana presa no Irão durante a revolução de há alguns anos atrás, ou seja uma história verídica, que até pela ironia de a salvação ter sido conseguida por causa de um suposto filme falso, pode muito bem acabar sendo confundida com uma obra de ficção, na verdade duvido que este não acabe sendo um daqueles filmes de sábado e domingo à tarde, não que isso desmereça alguma coisa.
Argo tem um bom elenco, mesmo sem nenhum grande nome aclamado no elenco, no máximo o Alan Arkin, que já ganhou um óscar, e o Bryan Cranston, o eterno Walter White de Breaking Bad, mas do primeiro pouco ouvi falar e o segundo mesmo sendo um actor extremamente competente não tem, infelizmente, um grande estatuto no que diz respeito a filmes. E o Ben Affleck por mais que tenha ganho uma grande imagem como realizador, duvido que alguma vez se torne um actor de renome, mesmo que ao manter-se como protagonista dos seus filmes e manter a qualidade deles quem sabe não acaba ganhando um óscar por interpretação daqui alguns anos, por insistência, de qualquer maneira em Argo ele praticamente só usa a sua poker face, logo não deixa muito o que criticar ou elogiar.
O ponto forte de Argo é sem dúvida a realização, que nisso o Ben Affleck claramente mostra uma grande evolução, mesmo tento tido até ao momento 3 filmes. Mesmo sendo um filme calmo, o filme também funciona razoavelmente bem para um público mais main-stream, principalmente pela sequência final. Sequência que acaba sendo onde os críticos mais criticam, e com razão, toda a situação de escapar por uma unha negra que sentiu durante os últimos minutos do filme nada de bom adicionam a um filme que se preze pela qualidade.
Além disso outra coisa que acaba nem sempre funcionando da melhor maneira numa obra que prima pela qualidade é o final 100% feliz, como o caso de Argo, mas neste caso em particular não havia muito o que fazer, já que na própria história verídica tudo aconteceu da melhor maneira.
Ou seja é um filme excelente que confirma, para quem ainda duvidava, da qualidade do realizador, que apresenta um filme com capacidade de tanto agradar a Academia quanto o público, que sim tem as suas falhas, mas merece o óscar deste ano. Apesar de isso acredito que o Ben Affleck ainda seja capaz de apresentar algo melhor e ainda tem bastante tempo para isso.
A par de Life of Pi os meus dois filmes favoritos entre os indicados aos óscares deste ano, sendo que Silver Linings Playbook acaba ganhando vários pontos por ter sido uma enorme surpresa, afinal de forma bem resumida o filme é uma comédia romântica e todos sabem que comédias românticas raramente são mais do que filmes de entretenimento, devem-se contar pelos dedos os bons filmes que já saíram do género.
Mas se ver-se com atenção Silver Linings Playbook não é apenas uma comédia romântica, não focando no romance em si, mas na relação entre dois personagens, que para quem quiser criticar vai dar ao mesmo, mas se olhar-se com atenção é diferente. O protagonista acaba saindo do manicómio logo no início do filme e a protagonista tem sérios problemas de personalidade e o roteiro do filme se baseia nessa premissa estranha entre os dois.
Uma das maiores qualidades de uma história de comédia é saber usar as suas próprias características, por isso Arrested Development é considerada a melhor série de comédia de sempre, que How I Met Your Mother ainda é suportável/boa na sua 8ª temporada e que Comunity tem tido dificuldades neste início da 4ª temporada. Isso é algo que é mais fácil funcionar numa série, pela longa duração que um filme obviamente não tem, e por isso vejo ainda mais qualidades em Silver Lining Playbook, porque em 2 horas consegue criar várias características próprias. Em todas as conversas entre os protagonistas, eles acabam sempre tocando nos mesmos assuntos, mas de uma forma natural e não só porque sim.
Ok, Excelsior, a morte do marido da protagonista e a traição da ex-mulher do protagonista são assuntos que vem à tona em praticamente todas as conversas dos dois e se juntar-se o resto do elenco pode-se adicionar as superstições, muito presentes durante todo o filme, principalmente pelo personagem do Robert De Niro e pela aposta final. Um dos melhores momentos do filme, tem spoilers leiam por conta e risco, é quando ele vai à casa de uns amigos e lhe perguntam se tem um iphone, ele diz que nem telefone tem porque não lhe deixam telefonar para a sua ex-mulher, o amigo comenta que deve ser complicado todos suspeitarem dele, quando o protagonista remate que eles têm toda a razão em não lhe dar um telemóvel, porque a primeira coisa que faria seria ligar para a ex-mulher.
Mas não é só dos protagonistas que se faz o filme, até porque por algum motivo os 4 principais personagens do filme estão nomeados aos óscares de interpretação, Bradley Cooper apresenta uma performance bem conseguida que pode muito bem querer dizer que a partir de agora possa ir mais nesse sentido em vez dos filmes mais de entretenimento que tinha feito anteriormente, Jennifer Lawrence confirma porque muita gente acredita que possa ser a melhor da sua geração, mais uma actuação excelente e a continuar assim vê-la nomeada a óscares deve ser algo normal no futuro. Robert de Niro entrega a sua melhor actuação em anos e a Jacki Weaver apesar da actuação mais discreta dos 4 não saí com algo menos do que excelente, além deles os restantes personagens também funcionam muito bem no filme, resumindo em termos de elenco sem dúvida o melhor elenco do ano.
Resumindo filme simples que pode para quem não assistiu passar bem por algo mais do mesmo, mas que quem assistiu sabe o nº elevado de qualidades do filme, desde as actuações dos personagens até há qualidade da comédia, praticamente tudo no filme funciona na perfeição. A única coisa que se pode dizer que falha é o final, mas aí nada há a fazer, afinal é uma comédia romântica e ainda para mais o título pode ser lido como a busca pelo final feliz, então tinha de terminar mesmo dessa maneira.
Quentin Tarantino é um dos meus realizadores favoritos, então aguardava ansiosamente por Django, como já aguardo pelo seu próximo trabalho, mas infelizmente Django acabou-me desiludindo um pouco, não estou por isso dizendo que é mau, bem pelo contrário é ainda assim um dos melhores filmes do ano, mas sem dúvida o Tarantino podia ter feito melhor.
E aí entra a grande polémica que tenho lido bastante, a morte da pessoa que o tinha ajudado na edição final de todos os seus anteriores filmes, parece algo fácil, mas pensando bem realmente não deve ser coisa pouca, ainda para mais para o fazer com um filme do Tarantino. O filme claramente ficou longo demais, 2 horas e 40 minutos, e ao mesmo tempo curto demais, isto porque o filme tem duas fases totalmente distintas e que não tem muito sentido estarem no mesmo filme e com isso acabaram cortando em demasia e mesmo assim ficou longo.
O filme claramente deveria ter sido dividido em dois ou então agilizar a parte inicial, porque a ideia que fica no início, principalmente tendo em conta o que se viu no trailer, é que a trama do Django e o Calvin Candie se vão juntar, mas não, o Tarantino decidiu fazer duas histórias diferentes no mesmo filme, primeiro despacha, por despacha diga-se leva pelo menos uma hora a despachar, a história do Django e só depois disso vão ter com o Calvin Candie, diga-se que isso trouxe acima de tudo 3 problemas:
Primeiro, a duração longa do filme, segundo, a falta de começo, meio e fim, o começo e o fim claramente não estão ligados já que o meio são duas histórias totalmente diferente, e terceiro prejudicou as actuações brilhantes de Leonardo Dicaprio e Samuel L. Jackson, que acabaram tendo pouco tempo de antena e com isso o afastamento, injusto, de Leonardo Dicaprio da nomeação ao óscar de melhor actor secundário. Sem dúvida o filme teria muito a ganhar se tivesse apressado a primeira metade e esticado a segunda.
O roteiro de Django tem os seus defeitos, mesmo tendo mais virtudes, os pontos fortes do filme são, como sempre nos filmes de Quentin Tarantino, os diálogos e as actuações dos seus actores, que conseguem tirar o máximo de si, em especial do Christoph Waltz que de actor que nunca tinha ouvido falar passa para vencedor do óscar de melhor actor secundário com Bastardos Inglórios e deve repetir a faceta este ano, apesar da excelente actuação do actor, a sua actuação em Bastardos Inglórios foi superior.
Samuel L. Jackson, assíduo actor dos filmes do Tarantino, tem uma actuação brilhante que já não tinha há alguns anos, o protagonista Jamie Foxx tem uma actuação também excelente e por fim a provável melhor actuação do ano no que diz respeito a actores secundários, Leonardo DiCaprio e o seu Calvin Candie, diria mesmo a melhor actuação que já vi o DiCaprio fazer e se estivesse nomeado ao óscar seria de certo a melhor escolha, mesmo que improvável ganhar.
Isso tudo me leva ao principal ponto negativo do filme, que ao contrário de Zero Dark Thirty são os últimos minutos do filme, o Tarantino estava a apresentar algo mais que excelente e do nada parece que joga a toalha e desiste, os últimos minutos foram uma chuva de sangue que é o que no cinema se chama de violência gratuita, algo que até ao momento raramente o Tarantino tinha feito nos seus filmes, fora algumas decisões de roteiro no mínimo questionáveis e o pequeno papel do próprio Tarantino no final do filme que também era dispensável.
Para concluir, mais uma obra de arte no que diz respeito a diálogos e boas actuações, com um roteiro excelente na maior parte do filme, mas que sofreu pela longa duração, pela divisão das duas histórias e principalmente pela sequência final, onde parece que o Tarantino jogou a toalha ao ar.
A par de Zero Dark Thirty, os grandes candidatos prematuros aos óscares de 2013, este pelo menos chegou mais longe que Zero Dark Thirty, já que na altura que foram nomeados os filmes, há um mês atrás, ele era de longe o principal candidato, mas essa é a parte interessante da fase de entrega de prémios, Lincoln foi totalmente derrotado nos outros prémios e dificilmente saí vencedor nos óscares, apesar de que mesmo assim deve levar para casa duas das 4 mais importantes estatuetas, o que de certa maneira acaba não sendo tão mau como parece.
Igual a Zero Dark Thirty e Les Miserables, mais um que teve problemas com a duração do filme e dos 4, já contando com o que vou comentar no próximo post, é o que menos sentido tem em tal duração, 2 horas e 40 minutos para um filme sobre uma personalidade? Ainda por cima todo o filme dedicado à parte de escritório, nada de real acção? Assim é difícil dizer que o filme não se torna chato, aborrecido e desinteressante, até porque boa parte dos que vão ver o filme, os americanos, já sabem sobre a história do Lincoln e da 13ª emenda.
O principal ponto positivo do filme é claro Daniel Day-Lewis, até hoje este foi apenas o segundo filme que eu vi do actor, mas foi só preciso de ver 10 minutos de Haverá Sangue para perceber a qualidade do actor e depois de ver esses dois filmes digo sem qualquer dúvida um dos melhores actores de sempre, quem sabe mesmo o melhor, já tem 2 óscares e este 3º se não haver surpresas vai ser canja, além disso ele já podia ter uns 5 ou 6 óscares pelas suas actuações que não seria um exagero, afinal é só olhar o currículo dele, não é actor de pegar 3 ou 4 papéis por ano, na verdade ele pega um papel de 2 em 2 anos, no mínimo, quase parecendo o ritmo de muitos realizadores.
Por um lado é chato esperar pelo próximo trabalho dele, que já estou aguardando ansiosamente, mas por outro vê-se a dedicação que ele dá a cada trabalho que participa. E digo, não havia melhor escolha para Lincoln que ele, a caracterização ficou tão boa, que em certos momentos parece que tudo o resto é falso. Claramente Daniel Day-Lewis é o grande motivo para Lincoln ter funcionado, em parte, e não ser um desastre tão grande quanto Zero Dark Thrity e principalmente Les Miserables.
Por fim, resta comentar sobre Steven Spielberg, não sou grande fã dele, principalmente porque acho muitos dos seus trabalhos overrated, à excepção de A Lista de Schindler, um trabalho perfeito do realizador, apesar disso é impossível não reconhecer o seu talento, principalmente porque nunca ficou na sua zona de conforto e já fez um pouco de tudo, algo que não são muitos os realizadores que se podem orgulhar. Lincoln provavelmente não ficará no seu top5 de filmes, mas sem dúvida fica bem no seu já longo currículo.
Concluindo um bom filme, mas que não teve a melhor abordagem e sem dúvida só teria ficado a ganhar com algo em torno de duas horas para baixo, apesar disso a nível técnico um dos melhores filmes do ano.
Desde que a Academia alargou o nº de filmes nomeados ao óscar de melhor filme que tem seguido várias opções na escolha dos candidatos, quase sempre acaba adicionando um filme independente, há dois anos atrás foi o filme Despojos de Inverno este ano é Beasts of Southern Wild, o filme sensação do ano. E é bom que assim seja porque abrindo as portas para filmes nos moldes desses dois pode ser que nos próximos anos possam surgir nomeados aos óscares as grandes perolas indys.
Nem sei bem como explicar o que Beasts of Southern Wild é, no geral é o típico filme independente, pega numa determinada história razoável e com grandes acuações e uma direcção de roteiro excelente faz algo impecável, longe de ser algo digno de entretenimento e ao mesmo tempo também longe de ser algo bom o suficiente para competir com os grandes nomes nomeados aos óscares, ou seja um filme para o público de festivais.
Beasts of Southern Wild e Despojos de Inverno são dois filmes bem parecidos na forma como são feitos e na qualidade em si, mas pessoalmente prefiro Despojos de Inverno, na altura me pegou muito mais que Wild, este último que confesso não me agradou tanto quanto gostaria, sendo provavelmente esse o motivo de te-lo achado inferir a Lincoln. Mas aí é que está o grande problema dos filmes independentes, não é tão fácil agradarem como um filme de entretenimento, que por acção ou comédia gratuita acaba facilmente ganhando mais fãs.
Mas filmes independentes são assim mesmo, uns agradam algumas pessoas outros agradam outras, mas o que interessa é saber respeitar e em boa parte dos casos apoiar, porque é sempre bom ver filmes de menor destaque como esse nomeados para os óscares, independentemente se têm ou não capacidades de ganhar. Quem acompanha mais filmes independentes sabe bem que Beasts of Southern Wild é bom, mas há outros muito melhores, mas em vez de se criticar a escolha da Academia por Beasts deve-se apoiar porque apoiando pode ser possível que daqui a alguns anos se possa ver um Steve McQueen nomeado ao óscar de melhor realizador e com algum filme do nível Hunger ou Shame nomeado a melhor filme.
Mas deixando a parte filme independente de lado, resumindo bem, a história é praticamente sobre uma menina de 7 anos, se não estou errado, e a maneira como ela vê o mundo, acompanhado pelo seu pai e pelos amigos estranhos do local onde moram. Digamos também que o filme ganha muito pela actuação brilhante da pequena actriz, tanto que ela acabou ganhando uma nomeação ao óscar de melhor actriz principal, numa estranha selecção este ano que teve ela, com 9 anos actualmente, como a mais nova nomeada a um óscar principal e a actriz de Amour, como a mais velha de sempre a ser nomeada.
Para concluir, um excelente filme, mas que por ser um filme independente acaba não sendo muito ambicioso, por isso sem grandes possibilidades de chegar mais longe do que chegou, independentemente disso, é um excelente cartão de visitas para quem quer assistir a algo mais que um bom filme de entretenimento ou até mesmo conhecer um pouco mais dos filmes independentes, onde tem muitas perolas esquecidas.
Igual a Les Miserables também cheguei a acreditar que este também poderia ser um filme melhor do que The Hurt Locker, o anterior trabalho da realizadora, mas também igual a Les Miserables uma desilusão, passando de quase inevitável vencedor para nomeado que só se comenta pela polémica, em torno do Bin Laden e a nível de criticas também parecido com Les Miserables, alguns adoram outros odeiam, mas no geral com a balança mais equilibrada que Les Miserables, mesmo que caía para o odiar e para críticas negativas. No meu caso não posso dizer que odiei, mas não gostei.
Zero Dark Thirty é o filme do Bin Laden, ou pelo menos foi nessa premissa que foi vendido comercialmente, também por isso o considerava, e acredito que a maioria também o consideraria, o grande candidato aos óscares, afinal um filme falando da captura do homem mais procurado do mundo, a academia já deu óscares sobre filmes patriotas por muito menos que isso, incluindo The Hurt Locker. O que é engraçado é que a uma semana dos óscares, nem Bin Laden nem Lincoln, apesar de que ainda irá ficar com o filme patriota Argo, que logo comentarei daqui a alguns dias.
Apesar de ser vendido como o filme do Bin Laden, a história em si passa bem longe disso, o que traz tanto defeitos como virtudes, a grande virtude é sem dúvida toda a cena final, tanto o ataque como o final do filme em si, 40 minutos finais quase perfeitos, os defeitos são as outras duas horas. O filme é acima de tudo sobre a história de uma oficial americana obcecada pelo Bin Laden, tecnicamente falando tem muito material para funcionar, só olhar a primeira temporada da série Homeland, que tem uma premissa parecida.
O problema é que a realizadora não tenta fazer isso de forma gradual, e provavelmente o facto de ser um filme e não uma série não ajuda. Por causa da realizadora ser uma mulher e a protagonista também, o que mais fica assinalado durante praticamente todo o filme é um feminismo exagerado, onde se preocupam apenas em mostrar uma mulher no poder e não em faze-lo realmente convincente, quase que parece que é dito “somos mulheres então não é preciso criar algo coerente, só por sermos já cria essa ligação por si próprio e quem criticar é machista”.
Além disso, é um filme de um único momento, o real interesse de quem vai assistir Zero Dark Thirty é a morte do Bin Laden, o que torna a duração longa do filme ainda mais evidente, quase como o espectador querendo passar logo para a parte que importa, e aí falha provavelmente a maneira como o filme foi vendido comercialmente, eles tentaram esconder o papel da protagonista, isso é dito claramente pela actriz numa entrevista, mesmo que ela tenha dito isso pelo facto de querer parecer badass já que antes de saber-se o papel dela pensava-se que seria apenas a namorada de algum americano importante.
Quando se vai ver o filme não se está preparado para um filme sobre um personagem, está-se preparado sim para um filme sobre o Bin Laden, de certa forma isso não deveria ser critica ao filme, mas é o que disse acima não é só o facto de o filme ter sido vendido como uma coisa e afinal ser outra. O problema é que essa coisa que saiu também não foi trabalhada da menor maneira, à excepção da cena final, que aí sim, numa cena praticamente sem falas, passa completamente a emoção da cena. Já tudo o resto, mesmo com a longa duração do filme, parece apressado e pouco trabalhado, o que volto ao tema que disse acima da premissa da história funcionar melhor como série do que como filme.
Por essa parte final o filme acaba não sendo o desastre do ano, mesmo assim teve várias escolhas bem duvidosas de roteiro, que praticamente só agradaram aos americanos patriotas, que gostam de tudo o que tem a haver com homenagear-se a si próprios e aumentar o ego. Filme claramente afastado da corrida aos óscares, a não ser que aja uma grande surpresa e a princípio deve sair de lá de mãos vazias no que diz respeito aos principais prémios.